Isabel Cristina Hierro Parolin
Um breve estudo da dislexia
"É claro que é com 's' meu filho. O s entre vogais tem som de 'z'".
Parece simples, mas não é tão fácil assim. Na palavra cozinha a letra z está entre vogais. E na palavra trazer? Quando se usa 's', 'z', 'ç', 'ss', 'x', 'ch'? Sabe-se que só pelo som não se chegará à uniformidade da grafia e muito menos a uma escrita acadêmica adequada.
A escrita faz parte da nossa humanização e torna-se difícil, cada vez mais, o convívio social sem essa linguagem. A escrita nos é tão familiar que nós não chegamos a perceber o quanto ela é complexa e cheia de regras.
Começamos a entender as funções da escrita quando pequenos e vamos aprofundando essa compreensão ao longo de nossas vidas. A criança vai tendo contato com a linguagem escrita ao observar os adultos trabalhando, ao identificar produtos por seus rótulos, ao ver cartazes, pessoas lendo histórias, recados, enfim. Aparentemente escrever é simples, porém, só quando começamos a nos expressar através dessa linguagem é que constatamos o tamanho da sua complexidade.
A criança quando começa a escrever, necessita compreender que há varias formas de se grafar a mesma letra: a de forma, a cursiva, a maiúscula, a minúscula e que, ainda existem as diferenças individuais na forma da escrita. Por isso que, no início da alfabetização, é melhor a criança usar a letra de forma, pela menor exigência de domínio motor e maior facilidade para grafá-las.
Apesar da escrita estar profundamente ligada ao nosso contexto social, ela não é natural como a linguagem oral. Como a criança é dotada geneticamente de instrumental para falar, o simples contato com a linguagem oral favorece o desenvolvimento da expressão oral da criança. A criança começa balbuciando e vai experimentando sons, formas de dizer determinada palavra, até conseguir falar adequadamente e ser compreendida. Esse processo leva alguns anos. Na linguagem escrita também temos um processo de experimentação até que se chegue à escrita correta das letras e finalmente à expressão adequada do que se quer registrar através da escrita.
O objetivo da escrita é permitir uma leitura e ler é recriar uma escrita e, consequentemente, uma idéia. Ser leitor, nesta perspectiva é desvelar e recriar a idéia do autor.
Geralmente é na escola que a criança aprende a ler e a escrever e é a professora que vai encadeando, em graus de complexidade, essa aprendizagem. Ao longo de nossas vidas, vamos percebendo o número enorme de regras, de exceções a estas mesmas regras, da necessidade de estrutura do texto para que ele cumpra a sua função de comunicar um ponto de vista.
Nem sempre a construção do leitor e da linguagem escrita é possível sob o ponto de vista pedagógico, apesar de fazer parte do rol de atribuições da escola e de ser duas aprendizagens diferentes. Essa aprendizagem pressupõe alguns aspectos de ordem pessoal e de desenvolvimento, inerentes à história de cada criança. É importante considerar e observar se a metodologia de construção da leitura e da escrita, está adequada àquela criança e devidamente trabalhada. Também pode ocorrer da criança estar com nível de maturidade incompatível com a proposta de alfabetização. Outra situação possível é que o contexto familiar da criança e sua bagagem cultural sejam pouco estimuladoras. A criança pode estar em um estágio de desenvolvimento global imaturo para essa aprendizagem, ou ainda, ter algum déficit que torne a aprendizagem incompatível com aquele momento de aprendiz, promovendo desvantagens importantes e com conseqüências marcantes na auto imagem da criança. Pode ser ainda que a criança esteja passando por um estresse emocional que a desgaste e impede a aprendizagem.
Isoladas as possibilidades acima descritas, a criança que apresenta uma dificuldade duradoura da aprendizagem da leitura e da aquisição do seu automatismo, pode ser disléxica.
Não devemos confundir com Disleria, que são as crianças que demoram para amadurecer para a leitura e escrita e nem com Disgrafia, que é uma desordem no traçado correto das letras, mas que não apresentam dificuldades simbólicas e perceptuais.
A dislexia é um transtorno duradouro da leitura e se apresenta em vários graus de intensidade e importância. Estima-se que cerca de 2% a 8% das crianças em idade escolar sejam disléxicas.
É observada e diagnosticada, geralmente, na fase de alfabetização, mas os sintomas podem ser observados antes do aparecimento da dificuldade propriamente dita. Os sinais mais freqüentes são:
- Muitas vezes é considerada infantil, preferindo brincar com crianças de idade inferior a sua;
- Dificuldade para compreender a linguagem falada;
- Dificuldade com orientação espaço-temporal. A criança confunde termos como: antes, depois, na frente, atrás, encima, embaixo, à direita, à esquerda, etc.
- Dificuldade para automatizar algumas aprendizagens como: andar, andar de bicicleta, amarrar tênis, subir escadas, etc.
- Dificuldade para integrar-se à grupos.
A tarefa de ler é muito difícil para o disléxico e requer muito esforço e concentração. Os disléxicos são prejudicados em sua capacidade para compreender pequenos textos, resenhá-los ou mesmo reescrevê-los. É comum que a criança com dislexia tenha importantes dificuldades ortográficas.
Uma crianças para ser considerada disléxica deve ser inteligente, normalmente escolarizada e livre de perturbações sensoriais, emocionais e neurológicas. Existem pesquisas que demonstram uma incidência significativamente maior entre os meninos, três meninos para cada menina, e é indiferente às classes sociais e raças. Não há conhecimento de dislexia nas escritas ideográficas, como o Japonês e Chinês.
Para pais e profissionais da educação não é tão importantes conhecer as causas da dislexia, mas sim como trabalhar com crianças que apresentem essa dificuldade.
O fator genético é apontado como um indicador causal. A criança com dislexia apresenta uma perturbação em sua motricidade geral, na orientação esquerda-direita, na percepção temporal, na elaboração de imagens globais afetando a compreensão da linguagem oral e escrita, no esquema corporal e lateralidade. Algumas crianças parecem ter dificuldade visual e em muitas têm distúrbios do sono e são agitadas.
A criança pode confundir o traçado das letras, principalmente as muito parecidas como o p e o b. Não é raro a criança ficar muito preocupada em decifrar os símbolos escritos e perder o significado da palavra. Outra característica é a leitura silabada, sem respeito a pontuação, acentuação, tornando a leitura impossível de ser compreendida.
Ao escrever podem ser lentos, com desorganização gráfica, escrita vacilante e confusa, com muitos erros, com letras, sílabas ou palavras escritas em espelho, invertidas, aglutinadas, com omissões ou acréscimo de letras, tornando a visualização do texto esteticamente feio e difícil de ser lido e compreendido.
Diante desse rol de sintomas, geralmente, a criança disléxica tem baixa auto-estima, não acreditando nela mesma e com baixa resistência para viver frustrações.
É importante ressaltar que as dificuldades aqui descritas fazem parte de um estágio inicial da aprendizagem da leitura e da escrita. Só será considerado disléxico o aluno com a persistência destes indicadores, apesar de uma adequada escolarização, de um bom estímulo para a leitura e uma boa estrutura doméstica para suporte.
O diagnóstico de dislexia é complexo e deve ser construído em parceria com a escola, com outros profissionais que estejam envolvidos e a família da criança. Alerto e reafirmo: não é suficiente a criança não conseguir ler para ser considerada disléxica! A história evolutiva da criança, tipificações de seu comportamento operatório e também o grau da dificuldade, somados as observações de todos os envolvidos, construirão o diagnóstico e os procedimentos de reeducação. O diagnóstico não deve ser encarado como um rótulo final, mas como o início de uma caminhada recuperadora.
É importante valorizar o potencial de inteligência da criança, motivando-a a vencer sua dificuldade.
Entender o que acontece com ela e oferecer adequada e amorosa parceria é fundamental.
Nós precisamos aprender a valorizar as facilidades dos nossos filhos e alunos, suas áreas de talento e não somente suas dificuldades. No entanto, devemos ter cuidado para não superprotegê-los. Atender aos aspectos emocionais da criança é essencial, mas ela precisa, e muito, de instrumentos pedagógicos para obter sucesso em suas aprendizagens e potencializar o Ser Aprendiz... e essa tarefa é trabalhosa, muitas vezes cansativa e requer uma energia amorosa e sábia.
Há várias formas de intervenção e uma criança adequadamente atendida em suas dificuldades pode surpreender...
Bibliografia de apoio: GARCIA, Jesus N. Manual de dificuldades de aprendizagem. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. STELLING, Stella. Dislexia. Rio de Janeiro: Revinter, 1996.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
Os 4 mitos da dislexia
Criança que não aprende é doente, dizem muitos. Mas a solução para as dificuldades de aprender a ler e escrever, entre outros problemas, passa primeiro pela sala de aula.
1º mito: A dislexia atrapalha a alfabetização
Criança que troca letras é disléxica, certo? Não. Focar a expressão escrita na oralidade (escrever como se fala), trocar tipos parecidos foneticamente (como F e V), juntar palavras e unir letras de forma aparentemente aleatória são ações absolutamente normais do processo de alfabetização. Quem sabe como o aluno constrói esse novo conhecimento considera esses fatos como um avanço em relação a uma etapa anterior, não um erro.
As pesquisadoras argentinas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky descobriram (há quase 30 anos!) que os estudantes elaboram diferentes hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita, como se fossem degraus numa escada rumo à aprendizagem. Investigações na área de didática são unânimes em demonstrar que se alfabetizar está longe de ser uma tarefa simples, num processo complexo em que as idéias dos pequenos nem sempre coincidem com as dos adultos. “Observar a relação do aluno com a própria escrita é mais importante do que apontar erros e muito mais efetivo do que rotulálo como portador de um distúrbio”, afirma Giselle Massi, especialista em fonoaudiologia e linguagem, em Curitiba. Em vez de encaminhar para um tratamento de saúde, o importante é compreender que o percurso é tão importante e desafiador quanto sua conclusão.
Vale lembrar que saber escrever vai além da aquisição da ortografia correta. Aspectos textuais, como coerência, utilização e manipulação de referências e construção lógica de idéias, evidenciam a capacidade de uso da escrita. Apesar de serem centrais na avaliação do nível de compreensão que cada criança tem da linguagem, esses elementos muitas vezes são ignorados. Por exemplo: um aluno que troca letras pode apresentar outras qualidades em seus textos e, portanto, não deve ser tachado de doente, sem apelação.
2º mito: O disléxico não gosta de ler e escrever
Na verdade, o desinteresse pela leitura e pela escrita está muitas vezes associado às próprias dificuldades da alfabetização. A expectativa equivocada de pais e educadores quanto ao ritmo de aprendizagem e a simples comparação entre os colegas de classe podem criar estigmas. Essa mania de colocar rótulos nos estudantes (bons, esforçados, casos perdidos...) cria o que Giselle Massi chama de aquisição por sentido: “Ao ser carimbada pelo professor e pelos pais, a criança desenvolve uma equivocada noção de si e passa a se ver como incapaz de avançar”. Assim, é natural que perca o interesse pelas atividades ligadas ao que considera ser a sua fragilidade (leia mais na entrevista abaixo).
Além de distúrbios físicos (problemas de visão ou audição, por exemplo que podem interferir nessa dificuldade, pais que não valorizam a leitura ou têm pouco acesso a livros e jornais inf luenciam diretamente o desempenho percebido em sala de aula. Não se pode esquecer que no Brasil, segundo dados do Indicador do Alfabetismo Funcional de 2007, só 28% da população entre 15 e 64 anos é capaz de ler textos longos e fazer relações e inferências. É por isso que, aqui, acreditar que a dislexia seja responsável por esse problema é muito grave e não pode justificar os entraves do atual sistema de Educação.
“Quando a criança é observada com mais atenção, é possível verificar que a maior parte dos problemas não é de origem patológica, mas uma junção de fatores internos e externos à escola que dificultam a aprendizagem”, afirma Telma Weisz. “Não questiono a existência da dislexia, mas seus sinais pedem muita atenção num país como o nosso.”
3º mito: O disléxico é mais inteligente e criativo
Essa é outra afirmação, digamos, um tanto quanto estranha. Alguém acha que é possível medir a inteligência ou a criatividade de forma objetiva, como resultado de uma avaliação pragmática? Uma tese amplamente aceita é a de que, por utilizarem formas singulares de elaboração da linguagem escrita e de interação com o idioma, as crianças ditas disléxicas acabariam por desenvolver estratégias mais criativas de comunicação, interessando-se mais pelas artes e pelos esportes.
O fato é que cada ser humano é único, cheio de sutilezas e tem uma intrincada e singular forma de observar e interagir com o mundo. Em outras palavras, todos os estudantes apresentam afinidade com diferentes linguagens. Pesquisas do psicólogo norte-americano Howard Gardner comprovam essa diversidade. Tanto que ele cunhou a expressão “inteligências múltiplas” (ou seja, não há “uma” inteligência a ser medida). Testar essas habilidades implica considerar um universo de possibilidades do conhecimento humano e não apenas a expectativa da sociedade numa determinada época.
Para a psicopedagoga Marice Ribenboim, de São Paulo, o rótulo de gênio é tão nocivo quanto o de incapaz de aprender. “Marcar uma criança como portadora de um distúrbio é, em qualquer situação, uma forma de limitação. A Educação não pode se pautar por esse tipo de evidência, como se fosse um veredicto final sobre as possibilidades de cada um.”
4º mito: As causas da dislexia são genéticas
Estudos recentes conduzidos por Sally Shaywitz, neurologista da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, apontam para uma descoberta neurofisiológica que seria capaz de justificar a falta de consciência fonológica do disléxico. Mas, embora as principais instituições de estudo da doença aceitem atualmente a teoria de uma origem genética, oficialmente a dislexia ainda é um distúrbio sem causa definida. Sim, oficialmente é isso.
Pesquisas realizadas no Brasil e na Inglaterra pelo neurologista Saul Cypel, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto de Neurodesenvolvimento Integral, colocam em xeque a maneira como são conduzidos esses tipos de teste de diagnóstico e revelam que, de cada 100 alunos encaminhados ao médico com suspeita de dislexia, apenas três efetivamente têm a doença. Elas demonstram que não há relação direta entre disfunções no exame eletroencefalográfico e dificuldades de aprendizagem.
Como os mecanismos de funcionamento da dislexia ainda são um mistério para a Medicina, só os sintomas é que conduzem a um diagnóstico – e eles podem apontar para caminhos equivocados. Quando uma criança mostra dificuldades de aprendizagem associadas à dislexia, os exames às quais é submetida têm como intuito principal descobrir se existe outra causa perceptível para a doença. Se nenhum desvio físico ou psicológico é encontrado, toma-se a dislexia como uma patologia presente e mede-se, por meio dos sintomas, seu grau de severidade.
O tema, como se viu nestas quatro páginas, é bastante controverso e, obviamente, não se esgota aqui. Não há conclusões totalmente definitivas sobre a dislexia (suas causas, seus sintomas, sua ligação com a escola). O que sobra são dúvidas que precisam ser destacadas e exploradas num debate crítico. Como diz o filósofo francês Edgar Morin em seu livro Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro: “Será preciso ensinar princípios de estratégia que permitam enfrentar os imprevistos e as incertezas na complexidade do mundo contemporâneo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza”.
Fonte: Revista Nova Escola
1º mito: A dislexia atrapalha a alfabetização
Criança que troca letras é disléxica, certo? Não. Focar a expressão escrita na oralidade (escrever como se fala), trocar tipos parecidos foneticamente (como F e V), juntar palavras e unir letras de forma aparentemente aleatória são ações absolutamente normais do processo de alfabetização. Quem sabe como o aluno constrói esse novo conhecimento considera esses fatos como um avanço em relação a uma etapa anterior, não um erro.
As pesquisadoras argentinas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky descobriram (há quase 30 anos!) que os estudantes elaboram diferentes hipóteses sobre o funcionamento do sistema de escrita, como se fossem degraus numa escada rumo à aprendizagem. Investigações na área de didática são unânimes em demonstrar que se alfabetizar está longe de ser uma tarefa simples, num processo complexo em que as idéias dos pequenos nem sempre coincidem com as dos adultos. “Observar a relação do aluno com a própria escrita é mais importante do que apontar erros e muito mais efetivo do que rotulálo como portador de um distúrbio”, afirma Giselle Massi, especialista em fonoaudiologia e linguagem, em Curitiba. Em vez de encaminhar para um tratamento de saúde, o importante é compreender que o percurso é tão importante e desafiador quanto sua conclusão.
Vale lembrar que saber escrever vai além da aquisição da ortografia correta. Aspectos textuais, como coerência, utilização e manipulação de referências e construção lógica de idéias, evidenciam a capacidade de uso da escrita. Apesar de serem centrais na avaliação do nível de compreensão que cada criança tem da linguagem, esses elementos muitas vezes são ignorados. Por exemplo: um aluno que troca letras pode apresentar outras qualidades em seus textos e, portanto, não deve ser tachado de doente, sem apelação.
2º mito: O disléxico não gosta de ler e escrever
Na verdade, o desinteresse pela leitura e pela escrita está muitas vezes associado às próprias dificuldades da alfabetização. A expectativa equivocada de pais e educadores quanto ao ritmo de aprendizagem e a simples comparação entre os colegas de classe podem criar estigmas. Essa mania de colocar rótulos nos estudantes (bons, esforçados, casos perdidos...) cria o que Giselle Massi chama de aquisição por sentido: “Ao ser carimbada pelo professor e pelos pais, a criança desenvolve uma equivocada noção de si e passa a se ver como incapaz de avançar”. Assim, é natural que perca o interesse pelas atividades ligadas ao que considera ser a sua fragilidade (leia mais na entrevista abaixo).
Além de distúrbios físicos (problemas de visão ou audição, por exemplo que podem interferir nessa dificuldade, pais que não valorizam a leitura ou têm pouco acesso a livros e jornais inf luenciam diretamente o desempenho percebido em sala de aula. Não se pode esquecer que no Brasil, segundo dados do Indicador do Alfabetismo Funcional de 2007, só 28% da população entre 15 e 64 anos é capaz de ler textos longos e fazer relações e inferências. É por isso que, aqui, acreditar que a dislexia seja responsável por esse problema é muito grave e não pode justificar os entraves do atual sistema de Educação.
“Quando a criança é observada com mais atenção, é possível verificar que a maior parte dos problemas não é de origem patológica, mas uma junção de fatores internos e externos à escola que dificultam a aprendizagem”, afirma Telma Weisz. “Não questiono a existência da dislexia, mas seus sinais pedem muita atenção num país como o nosso.”
3º mito: O disléxico é mais inteligente e criativo
Essa é outra afirmação, digamos, um tanto quanto estranha. Alguém acha que é possível medir a inteligência ou a criatividade de forma objetiva, como resultado de uma avaliação pragmática? Uma tese amplamente aceita é a de que, por utilizarem formas singulares de elaboração da linguagem escrita e de interação com o idioma, as crianças ditas disléxicas acabariam por desenvolver estratégias mais criativas de comunicação, interessando-se mais pelas artes e pelos esportes.
O fato é que cada ser humano é único, cheio de sutilezas e tem uma intrincada e singular forma de observar e interagir com o mundo. Em outras palavras, todos os estudantes apresentam afinidade com diferentes linguagens. Pesquisas do psicólogo norte-americano Howard Gardner comprovam essa diversidade. Tanto que ele cunhou a expressão “inteligências múltiplas” (ou seja, não há “uma” inteligência a ser medida). Testar essas habilidades implica considerar um universo de possibilidades do conhecimento humano e não apenas a expectativa da sociedade numa determinada época.
Para a psicopedagoga Marice Ribenboim, de São Paulo, o rótulo de gênio é tão nocivo quanto o de incapaz de aprender. “Marcar uma criança como portadora de um distúrbio é, em qualquer situação, uma forma de limitação. A Educação não pode se pautar por esse tipo de evidência, como se fosse um veredicto final sobre as possibilidades de cada um.”
4º mito: As causas da dislexia são genéticas
Estudos recentes conduzidos por Sally Shaywitz, neurologista da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, apontam para uma descoberta neurofisiológica que seria capaz de justificar a falta de consciência fonológica do disléxico. Mas, embora as principais instituições de estudo da doença aceitem atualmente a teoria de uma origem genética, oficialmente a dislexia ainda é um distúrbio sem causa definida. Sim, oficialmente é isso.
Pesquisas realizadas no Brasil e na Inglaterra pelo neurologista Saul Cypel, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e diretor do Instituto de Neurodesenvolvimento Integral, colocam em xeque a maneira como são conduzidos esses tipos de teste de diagnóstico e revelam que, de cada 100 alunos encaminhados ao médico com suspeita de dislexia, apenas três efetivamente têm a doença. Elas demonstram que não há relação direta entre disfunções no exame eletroencefalográfico e dificuldades de aprendizagem.
Como os mecanismos de funcionamento da dislexia ainda são um mistério para a Medicina, só os sintomas é que conduzem a um diagnóstico – e eles podem apontar para caminhos equivocados. Quando uma criança mostra dificuldades de aprendizagem associadas à dislexia, os exames às quais é submetida têm como intuito principal descobrir se existe outra causa perceptível para a doença. Se nenhum desvio físico ou psicológico é encontrado, toma-se a dislexia como uma patologia presente e mede-se, por meio dos sintomas, seu grau de severidade.
O tema, como se viu nestas quatro páginas, é bastante controverso e, obviamente, não se esgota aqui. Não há conclusões totalmente definitivas sobre a dislexia (suas causas, seus sintomas, sua ligação com a escola). O que sobra são dúvidas que precisam ser destacadas e exploradas num debate crítico. Como diz o filósofo francês Edgar Morin em seu livro Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro: “Será preciso ensinar princípios de estratégia que permitam enfrentar os imprevistos e as incertezas na complexidade do mundo contemporâneo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas em meio a arquipélagos de certeza”.
Fonte: Revista Nova Escola
sábado, 13 de novembro de 2010
Saiba mais sobre o Símbolo da Psicopedagogia
O Símbolo da Psicopedagogia foi eleito por maioria de votos no VIII Congresso Brasileiro de Psicopedagogia realizado em São Paulo de 9 a 11 de julho de 2009.
A Diretoria Executiva da ABPp, por quase uma década tem se mobilizado de diferentes formas para que fosse criado e adotado um símbolo que representasse a atividade profissional do Psicopedagogo. A idéia foi encampada pelo Conselho Nacional da ABPp que, após vários estudos e sugestões trazidas pelas Seções e Núcleos se propôs a fazer um trabalho reflexivo com o grupo de conselheiras, para que as idéias pudessem ser gestadas a partir dos conceitos que norteiam a identidade da Psicopedagogia, a fim de que a escolha pudesse ser a que melhor se adaptasse aos objetivos propostos.
Assim, ao se definir e conceber o símbolo da profissão, buscaram produzir uma síntese das consciências particulares, estabelecendo, conseqüentemente, através daquela concepção a consciência coletiva do segmento profissional.
Inspirado nos valores éticos inerentes à nossa profissão e nos princípios e significados da simbologia, o símbolo deveria traduzir toda a grandeza da Psicopedagogia. A proposta para sua criação tinha como objetivo estabelecer o vínculo com nossa história e, resgatar seu real significado que, hoje mais do que nunca, permanece através da legitimidade que a sociedade lhe atribui.
Como resultado de todo este processo, a proposta de se partir da simbologia da Fita de Möbius foi aprovada.
Por que Fita de Möbius?
Em 1858, o matemático e astrônomo alemão Auguste Ferdinand Möbius ao pesquisar o desenvolvimento de uma Teoria dos Poliedros, descobriu uma curiosa superfície que ficou conhecida com seu nome, a Fita de Möbius. É uma fita simples que tem duas superfícies distintas (uma interna e outra externa) limitadas por duas margens. Trata-se de uma superfície de duas dimensões com um lado apenas. Assim, se caminharmos continuamente ao longo da fita, atravessamos ora uma, ora outra dimensão.
O que encanta nesta fita é a sua extraordinária simplicidade aliada a um resultado complexo – transformando o finito em infinito.
Estas idéias foram passadas para dois design-gráficos que apresentaram algumas propostas, as quais foram apresentadas para no VIII Congresso Brasileiro de Psicopedagogia para que os congressistas votassem.
O significado do Símbolo eleito foi descrito da seguinte forma:
Fita de Moebüs com 3 voltas. Representa o olhar do Psicopedagogo. As voltas estão dispostas de forma a representar a aprendizagem do indivíduo. O círculo central representa o indivíduo em processo para a aquisição de conhecimento, chegando ao fim com mudanças perceptíveis (círculo vermelho).
Esse símbolo foi assim representado com o propósito de caracterizar nossa área de atuação, representando o Psicopedagogo com suas características próprias.
Fonte:ABPP
Assinar:
Postagens (Atom)