terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Adaptação na escola: quem mais sofre nesse processo?

Momento repleto de emoção: a entrada dos filhos para a escola representa um marco equiparável ao desmame. De um lado, pais ansiosos e inseguros; do outro, crianças curiosas e amedrontadas. Sair do “porto seguro” da casa e ainda ter que conquistar novas relações não é uma tarefa fácil para os pequenos. Abrir a “primeira rota” para o filho conquistar o mundo também não é fácil para os pais.
Na outra ponta estão as escolas e suas diversas maneiras de trabalhar essa situação. Existe uma linha de educadores que sustenta a idéia de que por mais que o momento de separação seja traumático, depois que os pais viram as costas, as crianças param imediatamente de sofrer e passam o período tranqüilas e confiantes. Afinal, é um ambiente cheio de novidades a serem exploradas e amizades a serem conquistadas...
No entanto, a grande maioria dos especialistas no assunto concorda que é muito importante que as particularidades de cada criança e de sua família sejam respeitadas. Para que tudo caminhe bem durante esta fase é preciso que os professores e especialistas fiquem atentos a esses dois grupos: pais e alunos. Não existe uma regra a ser seguida. Esse período varia muito e cada escola tem uma maneira de tratá-lo.
Mas, afinal, o que é “período de adaptação na escola”?
Vamos por partes: O período de adaptação da criança na escola não começa no primeiro dia de aula. Vem muito antes. Inicia-se com a tomada de decisão da família em colocar o filho “naquela” instituição de ensino. Daí a importância da escolha e da relação que se estabelece entre “família & escola”. Isto porque, a ação vai desde liberar interna e verdadeiramente o filho para a vida, como também entender a escola como um ganho. Saber “quem” cuidará do filho e “que todas as informações sobre ele estará à sua disposição” deixará os pais menos ansiosos e inseguros.
Escolha feita inicia-se outro momento. A escola deve se portar como uma aliada da família. Os pais não darão trégua. Eles vão se assegurar que o filho está sendo cuidado com extrema dedicação, carinho e profissionalismo de todas as formas! Sua presença (nos corredores e salas) e questionamentos (a todos os funcionários) serão infindáveis. Começa, aqui, uma parceria na qual a confiança deve ser a base fundamental. Para isso, é imprescindível o diálogo franco e constante com a professora, a coordenação e os especialistas. Os pais precisam ter espaço para expor suas dúvidas, impressões e sentimentos... A escola precisa entender toda essa insegurança e ter atitudes de tolerância e escuta...
Além de importante, “o momento da família na escola” é bastante curioso. Em muitos casos, são os pais que apresentavam maior dificuldade no processo de adaptação dos filhos! De repente eles se dão conta que os filhos têm um “novo mundo” do qual não fazem mais parte. Assim, necessitam da convicção de que “essa” escola é a “melhor escolha” para ambos os lados. Não apenas porque com essa opção “poderão trabalhar em paz”, mas também, porque isto “será positivo para o desenvolvimento do filho” em vários aspectos: afetivo, social, físico e cognitivo. A partir destas certezas, fica mais fácil encarar a situação. Aliás, muitas crianças têm dificuldade de adaptação, mais por uma ansiedade dos pais do que por qualquer outro motivo.
A escola já sabe. Quando a família apóia a criança, procurando passar segurança e tranqüilidade, tudo é mais fácil! Muitas das ansiedades “dos pequenos” se dissipam logo no início, ao conhecer as pessoas que cuidarão deles. Portanto, a presença confiante e participação ativa dos pais nesse começo são imprescindíveis.
Qual o papel da escola?
Repito: para que esse período seja construtivo e prazeroso, a instituição deve oferecer um ambiente acolhedor e seguro tanto para os alunos quanto para a família. É preciso garantir oportunidades para que os pais também possam relacionar-se com os professores, e demais funcionários da instituição. Ouvir e dar contínua atenção aos pais é, talvez, o aspecto mais importante nessa relação. Conhecer e conversar com a professora pode transmitir para a família a tranqüilidade necessária para deixar o filho em mãos seguras.
Outro aspecto importante é lembrar que a adaptação da criança está, também, na dependência do professor. Este deve conhecer suas necessidades básicas, suas características evolutivas e ter informações quanto aos aspectos de saúde, higiene e nutrição infantis. É interessante que todas estas informações sejam passadas para os pais em entrevista prévia com a direção. Sendo assim, a socialização da criança desenvolve-se harmoniosamente, adquirindo superioridade sob o ponto de vista da independência, confiança, adaptabilidade e rendimento intelectual.
Formar uma equipe tendo como prioridade a qualidade de vida das crianças atendidas para que sua adaptação aconteça de forma natural e gradativa, é outro papel importante da escola. Nesse processo, cada um deve cumprir sua função específica para que a criança se adapte com tranqüilidade a tudo de novo que está acontecendo. É preciso deixar claro: a criança tem necessidade de “um tempo” para construir vínculos com a professora e colegas e ir se familiarizando com o espaço escolar...
Portanto, uma colocação significativa da professora é que não são os medos e as recompensas que fazem a criança ficar na escola, mas o sentimento de que estar na escola é bom para ela. Frente a isto, a família ajuda a criança a se adaptar quando transmite verdadeiramente que a escola é algo positivo e prazeroso em sua vida.
Nesta viagem é preciso observar o quanto é intenso, complexo e fascinante, as experiências vividas com a criança seja na escola, seja na família. Um exercício que parte da tentativa de concebê-la em sua perspectiva de constituição de sujeito que constrói história e cria cultura.

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