sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Dúvidas


Gostaria que fosse explicitada a diferença entre a psicologia escolar e a psicopedagogia :
Podemos diferenciar a Psicopedagogia da Psicologia Escolar de três formas:
1. diferença quanto à origem histórica:
A Psicologia Escolar surgiu para explicar o fracasso escolar, enquanto a
Psicopedagogia surgiu como um trabalho clínico dedicado ao trabalho com aqueles que apresentavam dificuldades na aprendizagem por problemas específicos.
2. diferença quanto à formação:
A Psicologia Escolar é uma especialização do curso de graduação em Psicologia, enquanto o curso de Psicopedagogia é um curso de especialização, que recebe graduados em diversos cursos.
3. diferença em relação ao campo de atuação:
Talvez esta seja a diferença mais significativa. O trabalho da Psicologia Escolar se realiza nos limites da Psicologia, enquanto o trabalho Psicopedagógico se realiza na interface da Psicologia e da Pedagogia ou, mais recentemente, na interface da Psicanálise e da Pedagogia. Neste último caso, busca entender e intervir no processo de ensino e aprendizagem, levando em conta o inconsciente e a relação transferencial.
Qual o trabalho que a psicopedagogia poderia oferecer no trabalho de coordenação da Educação Infantil - creches e escolas?
A contribuição da Psicopedagogia na Educação Infantil
Embora a Psicopedagogia esteja voltada para o processo de aprendizagem formal e seus problemas, pode contribuir com o trabalho realizado na Educação Infantil, sobretudo na prevenção de futuros problemas de aprendizagem. Nesse sentido, pode oferecer parâmetros do desenvolvimento infantil e do processo de organização psíquica. Estes parâmetros podem apontar direções para o planejamento de atividades a serem realizadas com as crianças, assim como sinalizar eventuais dificuldades que as crianças dessa faixa etária podem apresentar.
Adiantando alguma coisa sobre isso pode-se dizer que a brincadeira é a atividade privilegiada da infância. Isso lhe ajuda tanto na sua constituição psíquica como no seu processo de desenvolvimento, de aprendizagem e de socialização. Os educadores que se dedicam aos pré-escolares devem ter isso em mente e privilegiar também essa atividade na proposta de tarefas.
Se houver interesse de sua parte no curso de Psicopedagogia, acho que é importante buscar um que contenha uma disciplina dedicada aos jogos e brincadeiras.
Qual a distinção entre Psicopedagogia, Psicologia Educacional e Orientação Educacional ?
Esta distinção poderá ser feita a partir das informações contidas nos códigos de ética dessas ocupações. As funções de Psicólogo Escolar e Orientador Educacional já possuem uma tradição na estrutura institucional. A função do Psicopedagogo Institucional é mais recente em nosso meio e sua importância tem sido reconhecida a ponto de que hoje há concursos públicos para esta função em Escolas Públicas.
A Psicopedagogia na sua origem no Brasil, esteve voltada para atender crianças com dificuldades de aprendizagem dentro de um contexto clínico. Atualmente a Psicopedagogia também vem contribuindo na área da prevenção das dificuldades de aprendizagem, bem como desenvolvendo programas que visam promover a integração dos alunos com dificuldades de aprendizagem. O Psicopedagogo institucional atende professores e os alunos dentro da escola.
Qual o histórico da Psicopedagogia no Brasil?
A Psicopedagogia no Brasil enquanto área de atuação é sustentada por referenciais teóricos, isto é uma práxis psicopedagógica . É reconhecida academicamente através das produções científicas materializadas em teses, publicações e reuniões científicas organizadas pelo nosso órgão de classe Associação Brasileira de Psicopedagogia e por outros órgãos representados pelos profissionais e áreas afins. A formação é feita em cursos de especialização em universidades públicas e particulares. Não há atualmente, portanto, como desconhecer o papel relevante desta profissão que tem contribuído para a integração de crianças, adolescentes e adultos que por diferentes razões estão desarticulados do sistema escolar e de instituições onde a aprendizagem é o centro. Diferentemente dos primórdios do movimento educacional preocupado em compreender as razões do insucesso das crianças na escola, buscando apenas no aluno as respostas, a tendência contemporânea é considerar o insucesso enquanto sintoma social e não apenas como uma patologia do aluno. Hoje é inegável o reconhecimento da contribuição social e científica da Psicopedagogia e dos Psicopedagogos na realidade brasileira. Embora nossa referência seja a Psicopedagogia, enquanto área de atuação preocupada com a questão da aprendizagem humana, sabemos que muitos são os estilos dos psicopedagogos, pois cada um os constrói a partir de sua singularidade, a qual determina as diferentes opções pelos modelos e referenciais teóricos. Entende-se que existe uma profunda relação e entrelaçamento entre os aspectos teóricos, a formação e o modus operandi do profissional. Como não há uniformidade de modelos teóricos, não há uma única práxis psicopedagógica. O fundamental é desencadear a consciência do compromisso na formação profissional. É a formação continuada que fundamenta a práxis psicopedagógica. Para que o tripé modelos teóricos/ formação/ modus operandi se sustente, hoje é preciso fazer uma distinção entre legitimidade e legalização. A legitimidade da Psicopedagogia enquanto praxis e do Psicopedagogo enquanto profissional, já foi alcançada. É preciso agora legalizar/oficializar através de leis o que já está legitimado.
Como surgiu a Psicopedagogia?
A psicopedagogia surgiu da necessidade de atender a crianças com problemas de aprendizagem como uma forma de re-educação escolar. Hoje os estudos estão muito desenvolvidos e os trabalhos, que inicialmente confundiam-se com um reforço pedagógico (sem propiciar os resultados desejados) mostram-se bem distantes desta visão.
Para se inteirar do percurso da Psicopedagogia é recomendodo o livro "A psicopedagogia no Brasil" de Nadia Bossa.
Qual a perspectiva de mercado de trabalho, fora da instituição escolar, para o Psicopedagogo?
A Psicopedagogia ainda é muito recente e carece de muito estudo e pesquisa. Depende não só das gerações passadas, dos "desbravadores" deste campo, mas também das novas gerações de profissionais ousarem e produzirem trabalhos e pesquisa com qualidade científica para dar continuidade ao trabalho já começado. Atualmente, além da Instituição Escolar, desenvolvem-se também as áreas hospitalar e empresarial, além da clínica clássica.
Como se dá a atuação do psicopedagogo nas áreas hospitalar e empresarial?
Como em toda instituição, ele tem vários tipos de atuação. Pode, por exemplo, trabalhar com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem, poderá também estar trabalhando com a equipe multidisciplinar dessa instituição, tais como psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros e médicos. No campo empresarial, o psicopedagogo poderá estar contribuindo com as relações, ou seja, com a melhoria da qualidade das relações inter e intra pessoais das pessoas que trabalham na empresa.
Quais são os problemas de aprendizagem e suas características?
A sua pergunta é aparentemente simples, mas na verdade envolve o cerne da psicopedagogia e dos referenciais teóricos que a sustentam, pois é preciso ter um conceito de aprendizagem e um conseqüente conceito de problema de aprendizagem para se realizar o trabalho psicopedagógico, tanto no que diz respeito ao diagnóstico como no que diz respeito à intervenção. Seria impossível explorar estes conceitos aqui, mas remeto você aos números 55 e 56 da Revista Psicopedagogia que contêm os textos do Forum realizado pela ABPp em 2002 sobre avaliação psicopedagógica. Certamente lá você encontrará definições de problemas de aprendizagem. No número 55 há um texto da psicopedagoga Denise Gouveia em co-autoria com a Edith Rubinstein que define aprendizagem e problema de aprendizagem. De toda forma, é possível dizer alguma coisa sobre os problemas de aprendizagem, nos limites deste espaço. Primeiro é preciso ter bastante claro que os problemas de aprendizagem sempre se apresentam na aprendizagem formal ou na escolaridade formal. Não podemos ainda nos esquecer da afirmação de Sara Pain de que os problemas de aprendizagem não são equivalentes aos problemas orgânicos, ou seja, não devem ser confundidos com rebaixamento cognitivo nem com dificuldades especificas de linguagem, motricidade, etc, embora seja importante num diagnóstico ter esse dado, pois pode haver também problema de aprendizagem numa criança que apresente esses problemas. Os problemas de aprendizagem dizem respeito, portanto, a desequilíbrios dos aspectos envolvidos na aprendizagem. Estes aspectos recebem inúmeras denominações, na nomenclatura psicopedagógica (subjetividade e objetividade, cognição e afetividade, etc), mas em termos práticos podemos dizer que eles dizem respeito ao conteúdo e à forma.
Explicando melhor, os conhecimentos socialmente compartilhados são conteúdos que se apresentam sob determinada forma. Para saber se há um problema de aprendizagem é preciso ter primeiro parâmetros claros de desenvolvimento de cada aspecto: desenvolvimento cognitivo, etapas da aquisição da escrita, etapas do desenvolvimento do desenho, etc. Esses parâmetros de desenvolvimento vão nos dizer dos aspectos formais que a criança atingiu e se isso está de acordo com a sua idade. Por outro lado, há o conteúdo que se expressa e que se compreende. Isso remete não somente às vivências pessoais, às aquisições culturais e de conhecimentos, mas às próprias possibilidades simbólicas. Se alguém tem possibilidades de compreensão e expressão abaixo do esperado para a sua idade e utiliza formas também abaixo do que é esperado para sua idade, não temos necessariamente um problema de aprendizagem, mas um rebaixamento intelectual, mas se um dos aspectos está preservado e o outro defasado, estamos diante de um problema de aprendizagem. Espero que isso ajude ou que faça você começar a pensar nessa linha. Isso que estou falando pode deixar mais claro porque falaram de modalidade de aprendizagem no seu curso ou por que ofereceram determinados instrumentos de avaliação dos problemas de aprendizagem como o desenho e o relato de desenho, as provas de escrita, as provas de compreensão de leitura, as provas de raciocínio, etc.Finalizando e respondendo especificamente à sua questão sobre a diversidade dos problemas de aprendizagem e os menos comuns. É preciso ter em mente que muitas vezes as formas de problemas de aprendizagem são recorrentes, ou seja, se apresentam os mesmos problemas nas mesmas crianças, mas os motivos certamente não são os mesmos. Por isso, não basta descrever qual o problema de uma criança, mas é preciso, no mínimo, levantar hipóteses sobre as suas causas.
Como se dá o trabalho psicopedagógico na clínica?
A função do Psicopedadogo clínico é possibilitar que seu cliente recupere a capacidade de aprender. O diagnóstico psicopedagógico é o primeiro passo para conseguir este objetivo.
Para fazer o diagnóstico podemos utilizar de vários recursos tais como desenhos, jogos, atividades artísticas, além, naturalmente, de um levantamento sobre a história de vida do paciente. Em geral já nesta faze observamos uma mudança no comportamento da pessoa.
Durante a intervenção podemos utilizar os mesmos recursos do diagnóstico que serão selecionados de acordo com as dificuldades apresentadas.
Qual o papel do Psicopedagogo nas empresas (organizações) brasileiras? Qual a diferença entre a Psicopedagogia institucional (escola) e a empresarial?
Os desafios da aprendizagem, nos dias atuais, extrapolam o contexto da escola. Precisamos olhar a aprendizagem que acontece em outros setores: na família; nos centros de educação informal; nas Instituições que acolhem crianças e adolescentes abandonados, ou excluídos; nas Instituições de saúde, nas empresas e enfim em todos os diferentes contextos em que o indivíduo precisa se desenvolver, transformar, criar e aprender a viver e a adaptar-se criativamente a novas situações.
Por outro lado precisamos olhar os profissionais em qualquer contexto de atuação em que se acham desafiados a aprender cada vez mais para poderem se fortalecer e se desenvolverem integralmente como homens na sua atuação profissional, propiciando ao outro, na relação de ajuda, o seu desenvolvimento integral para se adaptar criativamente às condições existenciais em que se encontram.
Há um movimento contemporâneo muito saudável que instiga as Instituições cada vez mais a se humanizarem, abrindo espaços de convivência que propiciem aos seus integrantes profissionais e aos seus clientes condições de aprendizagem mais humanizadas. A proposta é possibilitar o desenvolvimento dessas pessoas de forma mais integrada do ponto de vista cognitivo e afetivo. Nos últimos anos têm se desenvolvido pesquisas e estudos psicopedagógicos, levando em conta as dificuldades de aprendizagem devido a interações de fatores cognitivos, afetivos, biológicos e culturais que estagnam o desenvolvimento cognitivo-afetivo do aprendiz.
Qual a situação atual no que se refere ao reconhecimento legal da profissão de psicopedagogia no Brasil?
Em 1997, o Deputado Federal Barbosa Neto, atendendo ao pedido de algumas psicopedagogas, criou o Projeto de Lei no. 3124/97 que dispõe sobre a regulamentação da profissão de Psicopedagogo, cria os Conselhos Regionais de Psicopedagogia e determina outras providências. Este projeto foi encaminhado à Comissão de Trabalho no dia 15/5/97 e aprovado pela mesma Comissão no dia 3/9/97. Após esta aprovação este Projeto de Lei foi encaminhado à Comissão de Educação, Cultura e Desporto onde permaneceu por quatro anos e também foi aprovado, com algumas emendas, no dia 12/9/01. Atualmente este P.L. está na Comissão de Constituição e Justiça e de Redação esperando pela sua aprovação. Caso seja aprovado (o que esperamos que aconteça), este P.L. irá para o Senado para a sua apreciação e, depois ser sancionada pela Presidente da República.
Gostaria de saber onde posso encontrar (para leitura ou download) o Projeto de Lei na 3124/97 na integra.
Você poderá encontrar o PL 3.124/97 entrando no site: http://www.camara.gov.br/

Perguntas retiradas do site da ABPP

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